Estou confiando na evolução da tecnologia e dos conhecimentos do homem. Estou dando-lhes um prazo de 50 anos para descobrir algo antienvelhecimento, mesmo que com 65 anos eu já não seja mais tão nova. Mas tenho medo de passar dali.
Vejo agora meus avós - não só os meus, mas os seus também, e aqueles da minha vizinha ranzinza aqui de baixo - já sem aquele brilho no olhar que tinham quando mais jovens. O sorriso não mais tão branco, a pele mais enrugada, a expressão cansada de quem viveu uma vida inteira e agora só lhe resta aguardar. Não queria nada disso para mim. Saber que os dias estão contados, mas sem saber ao certo até quando. Ver o luar e se pegar pensando se não seria o último. Ter a certeza de que dalí para frente só lhe resta contar histórias e tomar algumas pílulas para adiar a certeza de algo já determinado.
Talvez eu prefira uma morte súbita, ataque cardíaco, acidente ou até mesmo assassinato. Ou melhor: morte natural. Morrer dormindo. Sem dores, sem sofrimento, nenhuma chance para o adeus. Nada de ter que assinar papéis, nenhum testamento, nada. Apenas ir, como deveria ser. Também não queria passar os últimos tempos em um leito de hospital. Hospitais não cheiram bem - não que sejam sujos, mas cheiram a desespero. Apenas imagino meu velório, com aquela amiga fofoqueira - que todos têm - dizendo em tons estridentes: "Coitada... Morreu assim, tão de repente!"
E o que mais me intriga é que todas essas exigências sejam insignificantes perto do medo que eu sinto. Estou tão acostumada a lidar com minhas dúvidas que quando me deparei com a única certeza que temos na vida fiquei realmente perturbada. É, acho que está na hora de investir em um colchão novo. Pelo menos terei o prazer de morrer confortável.