sexta-feira, 27 de março de 2009

Super Herói.

E ainda tentamos impressioná-los. Olhamo-nos milhares de vezes no espelho, alisamos e cuidamos fio por fio de nossos cabelos, maquiamo-nos impecavelmente, penteamos até sobrancelhas. Tudo na esperança de causar boa impressão, na esperança de arrancar olhares maliciosos. Mas negamos. Dizemos que tudo isso é para nos sentirmos bem conosco, que danem-se os comentários do outros, que somos felizes do nosso jeito. É uma pena que isso seja apenas da boca para fora.
Não conseguimos ser felizes sozinhos. Não passamos horas na frente do espelho pela manhã apenas para nos acharmos bonitos, afinal, não vivemos cercados por espelhos. Na verdade, queremos que os outros nos achem bonitos, queremos que falem bem de nós. Gostamos de nos sentir queridos, de ter muitos amigos. Mas é aí que se encontra o famoso feitiço que vira contra o feiticeiro: quanto mais chamamos atenção, quanto mais queremos que gostem de nós, mais pessoas prontas para nos derrubar encontramos. E falam mal, criam fantasias, criam histórias que destruam sua reputação - eu até me preocuparia se ainda tivesse uma.
Até perdi pedaços de mim tentando me reformar, tentando ser como os outros queriam que eu fosse. E só perdi tempo, umas amizades e alguns reais. Mas não valeu a pena. Ainda tento reconstruir-me e conquistar as pessoas assim, exatamente como eu consigo ser. Cansei de importar-me com comentários fúteis, normalmente tão fúteis quanto quem ousou em pronunciá-los. Pois quando falamos mal, é porque nos sentimos ameaçados, e temos medo. Nunca falaremos mal de alguém que não ofereça nenhum perigo para nós, que não pareça interferir nos nossos objetivos.
Contudo, não adianta sonhar, é impossível ser perfeito. E a vida seria muito monótona se não tivéssemos com o que nos preocupar.
Eu não quero salvar o mundo, então, não preciso que gostem de mim... Nem o Homem-Aranha agradou a todos.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Colecionadora de promessas

- Não sei porque ainda faço todas essas promessas. Engano a mim mesma, pois sei que não irei cumprí-las. - Olhei para ela, que fitava-me com aquela expressão vazia, tentando achar uma resposta plausível. Apenas sorriu e disse:
- Você faz isso apenas por ter medo de dizer "não".
- Mas isso tornou-se um vício, e não consigo mais não iludir as pessoas com essas minhas promessas vazias!
- Acho que você se preocupa demais em não mostrar a realidade para os outros, sendo que nada dura para sempre... Uma hora vão descobrir que foram enganados.
- E você me diz isso só agora, quando minha coleção de promessas está quase completa?
- Achei que você soubesse. - Seus olhos claros agora estavam frustrados. Eu via que ela estava tão confusa quanto eu, mas resolvi seguir qualquer coisa que ela me dissesse em seguida. Não conseguia mais pensar por mim mesma; por mais que tentasse, sempre dava um jeito de fazer tudo dar errado.
- E então, o que eu faço?
- Diga a verdade, doa a quem doer.
- E se a dor for insuportável?
- Tome uma aspirina.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Aquele novo olhar.

Vai completar uma semana. É tudo muito recente, e as coisas ainda giram ao redor de mim. Mas às vezes tenho a sensação de que passou-se um mês ou dois, nem sei mais. Sinto muito a falta dele - era o único capaz de acalmar-me depois de uma tempestade.
Vejo tudo com outros olhos agora. Os olhos de antes, na verdade. Mas um pouco menos ingênuos e envergonhados. Sinto novamente todas aquelas dúvidas, aquela sensação de que tudo é o fim do mundo, aquela preocupação com o que fazer no amanhã. Não tenho mais rotinas - nem sinto falta delas.
Mas olho-me no espelho e ele reflete um monstro. Não com patas gigantes, uma pele verde e um rosnado ensurdecedor. Um monstro que brinca com sentimentos, pois não consegue entender essa dor que os outros sentem. Não que eu não sinta também, pois não consigo ser tão gélida. Mas passo pelo que os outros passam em um velocidade fora de padrões. Passo pela tristeza, pelo arrependimento e pela fase da aceitação. Entretanto, essa transição dura no máximo 2 dias e, se ainda há lágrimas a serem derramadas, engulo-as, guardo-as para mim, naquele lugar onde guardo todas as mágoas não expressas. Porém, tenho medo do dia em que esse reservatório transbordar, pois virá a tona tudo isso que não passei nos últimos tempos. E, quando esse dia chegar, não sei quem estará do meu lado para trazer a calmaria - ele provavelmente não.
Então, saio a procurar outros olhares e outros abraços, que me façam sentir segura. Enquanto não encontro, sento aqui com meu chimarrão e assisto mais uma série de corações despedaçados, desejando ser assim também.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Amanhã é muito tarde para eu me arrepender?

Nunca pensei que seria tão difícil. Eu não tinha a mínima noção do que estava em jogo, até ver aquela maré de sentimentos inundando-me de lágrimas. Não só minhas.
Consegui sentir algo pior do que a dúvida e pior do que o medo de perder, citados nos outros posts. Eu senti o fim se aproximando, e quem abria as portas para ele era eu, com um sorriso triste no rosto e uma certeza incerta - ao mesmo tempo que queria, não queria. Mas a razão gritou mais alto do que a emoção. E agora tenho certeza de que são inimigas: a razão levou-me a fazer o que achava certo; a emoção castigou-me por isso. E estão até agora me enlouquecendo, pois enquanto uma me faz sentir alívio, a outra me mata de arrependimento.
Sem contar que roubaram-me as cores. Roubaram-me a graça. Roubaram-me um coração. Acordei com um dia cinza, vesti uma roupa cinza, bebi algo branco - devia ser leite, não senti o gosto. Andei por ruas desertas, passei a manhã com pessoas que tentavam me animar, mas não consegui ver a graça. E a tarde solitária só me fez perceber que talvez eu esteja estragando tudo novamente. Sinto como se um rolo compressor tivesse passado por cima de mim - talvez a morte doesse menos.
Um tempo. Ar puro. Preciso disso e de um copo de água para decidir se é isso mesmo que quero. Enquanto isso, a solidão me faz companhia. Até meu coração pulsar novamente.
"O preço que se paga às vezes é alto demais
É alta madrugada, já é tarde demais
Pra pedir perdão...Pra fingir que não foi mal" ♪♫♪

segunda-feira, 9 de março de 2009

Vestidos.

A dúvida é o mais cruel dos sentimentos. Ela dói e nos desgasta, nos inquieta, nos faz sofrer. E, por mais que você tente ocupar sua mente, ela sempre estará lá, martelando e martelando, até você se decidir.
E o que ela mais exige é silêncio e solidão. A história que "duas cabeças pensam melhor do que uma" nem sempre cabe no contexto. Nesses momentos, é cada um por si e o silêncio torna-se seu melhor amigo, pois mesmo sem falar nada mostra tudo o que é pra ser visto. Ele tem o poder de colocar os pingos no is, e de acalmar o inquieto.
Pois não reclamo da dúvida entre o vestido rosa ou o preto, até porque, na dúvida, compre os dois. Reclamo daquela dúvida que tem o mesmo poder da culpa, aquela que consome nossa energia e não nos deixa seguir em frente. A dúvida entre a vida nova ou o "felizes para sempre".
Às vezes estamos tão acostumados com o que vivemos que não pensamos em arriscar ou, se arriscamos, posteriormente nos arrependemos, e isso causa um bloqueio, pois temos medo de tentar novamente. E acaba se tornando um ciclo e ficamos sempre na mesma, com a dúvida de como teria sido se tivéssemos optado pela outra alternativa.
Então, chega um momento que seu mundo vira de cabeça para baixo e o que você mais quer é que tudo se dane. Danem-se as dúvidas, danem-se as consequências... Precisamos de coisas novas! E é nesse momento que você reconsidera e pensa se vale a pena deixar de lado tudo o que conquistou até o momento. Enfim, a dúvida novamente.
Então sorria. Isso basta.