- Mãe, está tudo bem?
- Hm... Mais ou menos.
- O que aconteceu? - Meu coração já havia disparado. "Mais ou menos" nunca me tranquilizam.
- Levei seu avô no médico hoje, e aquele probleminha voltou.
- Mas tem como curar, não?
- Teria... Mas submetê-lo a outra cirurgia é muito arriscado.
- Isso quer dizer que...? - Eu sabia o que significava, apenas não queria acreditar.
- Q-que...
- Que?
- ...que ele vai "apagar", como uma vela. - A essa altura, seu rosto já estava encharcado. Eu não sabia o que dizer para confortá-la, nem sentia-me confortável para isso. Apenas senti aquelas palavras chocando-se contra mim, tentando derrubar-nos. Então, peguei sua mão e continuamos andando em silêncio, lado a lado, com várias gotas no chão. Apenas o que ouviamos era o baque surdo dos nossos passos naquela noite vazia. Ainda não chovia. Mas aquela gota deixara de ser solitária, e muitas outras estavam estateladas no concreto frio e não mais tão seco - lágrimas minhas e dela, juntas, assim como seria dalí para frente.