Ela segurava aquela foto com as mãos trêmulas. Não sabia como aquilo havia parado ali, nem ao menos lembrava que a tinha. Estava apenas procurando um par de meias limpas, quando achou-a intacta, no fundo da gaveta.
Até ali não entendia como podia ainda gostar dele. Não era o príncipe encantado de seus sonhos, que fazia serenatas e escrevia poemas. Não tinha os cabelos loiros, nem os olhos claros, e não tinha um cavalo branco. Era apenas um rapaz comum – talvez nem tão comum assim.
Incomodava-se com o descaso dele com seu futuro. Tinha planos muito vagos, alguns impossíveis. Era jovem, mas não mais adolescente. Já tinha seus vinte e poucos anos, e continuava a entorpecer-se enquanto assistia o sol nascer com seus amigos.
Mas amava-o assim, mesmo o odiando por completo. Ele era capaz de mudar seu mundo apenas com uma palavra.
Agora se via ali, com aquela velha foto nas mãos. Era um beijo, no dia em que o apresentou aos seus pais. Lembrou-se do momento com seus mínimos detalhes: o nervosismo, a roupa que ele estava, as palavras e a vontade de abraçá-lo e não deixá-lo sair de lá nunca mais. Então percebeu que sentia saudades. Muitas saudades. Fora uma tola em deixá-lo ir, mas aquele talvez não fosse o momento certo para continuarem.
Eles ainda casariam e teriam filhos. Ele morreria antes do que ela, quando fossem velhinhos, pois dizia que não suportaria a dor se ela morresse. Eles juraram que seria pra sempre... Sim, tudo isso aconteceria. Ele prometera, ele prometera!
Então, ela beijou a foto procurando novamente o sabor dos seus lábios, mas o chiclé de menta já perdera o gosto. Roçou-a em suas bochechas, procurando sentir os arrepios que sentia quando ele a tocava, mas suas mãos já não a queriam tocar. Tentou sentir o seu perfume, mas ele já se perdera no ar. Apenas percebera que ainda o amava, mesmo depois de tantos meses sem vê-lo. E agora já não poderia fazer mais nada, pois ele parecia já ter esquecido tudo isso, e já mudava o mundo de outra garota. Ele não a amaria tanto, tinha certeza. Ele prometera, ele prometera!
Então, já entre soluços e lágrimas, passou a repetir em voz alta “eu não o amo, eu não o amo, eu não o amo, eu não o amo, eu não o... eu não... eu...” até pegar no sono, ali no chão mesmo. A frase perdera o sentido, mas seu amor não.