domingo, 7 de novembro de 2010

Sinceridades

Engraçado. Palavras ditas da boca pra fora saem muito mais facilmente do que as que realmente gostaríamos de dizer. É como se fosse mais fácil viver uma falsidade do que sermos sinceros o tempo inteiro. E muito mais lucrativo: não nos expomos tanto, não ofendemos ninguém, não corremos o risco de rirem da nossa cara.

Cansei-me de elogiar as roupas das pessoas mesmo quando pareciam pinheiros de Natal, de “adorar” cabelos que continuo achando que foram feitos por acidente, de sorrir mesmo para a pessoa com maquiagem mais assustadora que já vi. Sempre como comida sem gosto, acho chiuauas bonitinhos, gosto do trabalho que os outros fazem. E tudo está sempre maravilhoso. Porque é mais fácil dizer o que as pessoas querem ouvir, já que sabemos como será sua reação. A sinceridade dói pra sair.

Porém, o problema maior está quando se trata dos sentimentos. Já me calei milhares de vezes quando pensei no quanto odiava alguma pessoa, e foram raras as vezes em que realmente consegui mostrar o quanto gostava de alguém. O medo da reação da outra pessoa intimida. E continuo, calada, imaginando o que teria acontecido se tivesse dito tudo o que já me deu vontade.

Contudo, é interessante a sensação de se dizer a verdade. Dói. Mas é uma dor boa. Dá uma leve falta de ar, e a voz falha. É como se tentássemos expelir pela boca uma bola de fogo, que sobe queimando por toda a laringe e causa um grande alívio quando sai da boca. Tudo bem, não pareceu tão agradável, mas dá uma sensação de leveza indescritível. E surpreende as pessoas. Mas cuidado: não vá confundir sinceridade com arroto.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Estrelas

Às vezes é necessário, com os pés no chão, abrir o guarda-roupa e vestir algumas verdades. Escolher as que mais se encaixam, e tentar sentir-se confortável com elas. Em seguida, maquiar as imperfeições mais evidentes e pentear os nós da garganta até que se desfaçam. Colocar os óculos escuros, para que a realidade não faça os olhos arderem tanto. E, por último, calçar os sapatos com os saltos mais altos, para que se possa ficar mais perto das estrelas.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Loucura

Sou louca, mas uma louca boa... Nunca usaria minhas loucuras contra ninguém. Apenas a favor de mim mesma, como forma de “auto-diversão”.
Pego-me sorrindo sem motivo, e caio em gargalhadas quando deito na cama e lembro de algum dia que realmente tenha me deixado feliz. Encontro-me em frente ao espelho fazendo caras e bocas, xingando e pedindo conselhos à minha imagem refletida. Choro de saudade, falo sozinha, canto no chuveiro, danço sem ter música. Tenho freqüentes oscilações de humor, muitas vezes despercebidas devido ao meu baixo tom de voz. Mas e daí? Sinto-me bem comigo mesma. Gosto de conseguir ficar alegre mesmo em uma terça-feira chuvosa. E não considero isso loucura... Loucos são os que não tentam, antes de tudo, ser amigos de si mesmos.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Um quarto

Lembranças guardadas
Em caixas de sapato
E belos retratos
Das vidas passadas
Vidas guardadas
Em caixas e retratos
Lembranças passadas
E belos sapatos
Sapatos guardados
Em belas caixas
Retratos passados
E vidas lembradas
Lembranças esquecidas
Sapatos sem caixas
Retratos desbotados
E vidas não vividas.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Desilusão Amorosa

Como da vez em que me apaixonei pelo pedreiro.
Meus pais eram síndicos do prédio onde eu morava, e naquela época estavam fazendo algumas reformas. Eu tinha seis anos. Ele mais de trinta, eu acho. E não era um daqueles pirralhos que eu chamava de “coleguinhas”. Era um homem, de verdade. Com barba e tudo.
Passei a acompanhar as obras de pertinho. Não conseguia tirar os olhos dele. Já não me lembro muito bem de suas feições, mas sei que tinha os olhos claros e a pele morena, queimada do sol. Tinha nojo dos pelos do seu peito, quando trabalhava sem camisa, mas nada que uma Gilette não resolvesse. Como se eu soubesse o que era Gilette naquela época.
Pobre criança, ingênua. Realmente acreditava que ele era o amor da minha vida. Apaixonava-me rápido demais, fato. Até que, em uma das vezes que eu estava bisbilhotando as obras, parei atrás dele. Ele, sem me ver, abaixou-se para pegar uma ferramenta. Eu acompanhei-o com os olhos. Ele continuou abaixado. Eu contemplei seu cabelo, depois sua nuca, suas costas, até encontrar o fim da camiseta. Quando baixei um pouco mais o olhar, dei um grito. Estava ali – e claro que não poderia faltar – o risco formado entre a junção da nádega direita com a esquerda, exposto. Vulgo “cofrinho”. Saí correndo.
Não vi sua reação. Mas, a partir daí, prometi a mim mesma que nunca me envolveria com um pedreiro. Não poderia aceitar alguém que saísse por aí mostrando suas partes íntimas para qualquer uma.

domingo, 9 de maio de 2010

Supermercado

É inadmissível que em pleno século 21 ainda existam preconceitos entre homens e mulheres. Temos, sim, nossas diferenças, mas isso não determina que sejamos incapazes de certas coisas. Testes comprovam que mulheres são 3% mais inteligentes que os homens, mas eles são, de fato, fisicamente mais fortes. Porém, isso significa que um homem musculoso é incapaz de preparar um arroz porque a receita é tão complexa que só as mulheres conseguem entendê-la?

Mulheres podem construir uma casa. Homens podem trocar uma fralda. Mulheres podem lutar boxe. Homens podem costurar. Tudo isso é apenas questão de aprendizado. É apenas questão de deixar nos séculos passados os tabus que aconteceram, e viver um novo tempo. Nós, mulheres, cansadas de nos submetermos a tudo o que nos era dito, quisemos nossa independência, e isso significa que não precisamos de ajuda para trocar uma lâmpada. Queremos ganhar, cada vez mais, espaço na sociedade. Queremos mostrar que somos capazes de fazer - de salto alto - tudo o que um homem faz.

Mas, já que alguns machistas não aceitam nossas condições, deixemos que carreguem nossas compras do supermercado. Não são mais fortes? Pois então, que aguentem. Não gostamos de quebrar as unhas.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Teclado novo

Continuo batendo na mesma tecla quando digo que algumas coisas não foram feitas para serem entendidas. E não foram mesmo. As pessoas mudam, seus desejos mudam junto. Às vezes, se torna doloroso perceber que o que te deixava feliz já não é mais suficiente, que você precisa buscar algo novo para te trazer alegria.

Se nos contentássemos fazendo sempre o mesmo, não precisaríamos comprar roupas diferentes e poderíamos comer feijão e arroz até de café da manhã. Mas enjoamos da rotina, e acabamos querendo trocar o feijão por batatas fritas, como uma forma de fugir do usual.

Isso não significa que não enjoemos das batatas também e, quando todas nossas artérias estiverem se entupindo de gordura, queiramos voltar a comer o bom e velho feijão para nos sentirmos bem. Ok, deixemos as metáforas de lado. É, sim, de amor que estou falando, caro leitor.

Às vezes a vida une duas pessoas apenas para separá-las. Não quer dizer que elas deixem de se amar. Apenas precisam que a distância e a saudade digam-nas que merecem seu “felizes para sempre”. Mas a vida não é um conto de fadas, e nem tudo é perfeito. O mais difícil se torna mais interessante, e só porque temos as oportunidades em nossas mãos, não significa que queiramos agarrá-las.

Repito: algumas coisas não foram feitas para serem entendidas. E pelo jeito vou ter que comprar um teclado novo. Essa tecla está cansando de ser batida.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Flores e amores

“Amor” não são apenas

quatro letras jogadas ao vento

criando uma palavra bonita.

É necessário ver muito além

do que a palavra por si só:

Sinta o amor,

Viva um amor,

Seja um amor.

Deixe que ele te mostre

Os sons, as cores, as flores

A maravilha de amar

E também seus defeitos.

Porque amor perfeito

Só existe a flor.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Feelings

Eu queria que as pessoas não tivessem sentimentos. Seria tão mais fácil, não?

sábado, 3 de abril de 2010

Pegar ou largar?

Eu não tinha percebido como a decadência da minha vida social me incomoda. Talvez eu precise provar coisas novas, e respirar novos ares. Ou jogar tudo para o alto de vez. Que se dane, não se pode confiar no ser humano mesmo. Vou ter que comprar um cachorro.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Don't disturb.

- Você não acha graça de mais nada!
Não é a primeira pessoa que me diz isso. E sei que as piadas não deixaram de ser engraçadas, nem eu deixei de entendê-las. Apenas comecei a ser mais sincera inclusive comigo mesma.
Talvez meu desânimo já esteja mais aparente do que eu imaginava, mas é só tristeza. Tristeza, não infelicidade. Ainda me considero uma pessoa feliz, só não estou em um bom momento da minha vida.
Cansei de ser quem queriam que eu fosse. Cansei de beber coca-cola e sorrir o tempo todo. Não sou assim, como a TV manda. Apenas gosto de beber café e ficar sozinha um pouco. Odeio ter que explicar o porquê das minhas lágrimas. Deixe elas caírem, e me abrace sem dizer nada.
Porém, podem até exigir de mim que eu seja gentil. E serei. Só não exija de mim alegria.
Dedicado para a Giu, como prometido. ♥

Odeio,

ter essa sensação de que estou fazendo tudo errado. De novo.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Sonhos

Os sonhos só são interessantes
quando não conseguimos alcançá-los.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Ventania

Aconteceu logo que acordei. Ou pensava que tinha acordado, pois quis ficar aqueles cinco minutinhos a mais na cama, abraçando-a para mostrar como a amava e queria continuar ali. Mas é nesse meio tempo entre a vida real e o sono profundo que os sonhos mais loucos passam por minha cabeça, fazendo com que fique um pouco atordoada de manhã cedo.
Foi então que ouvi um grito desesperado, que parecia pedir por socorro mesmo sem palavras, pois tenho certeza de que as pessoas não gritam daquele jeito de felicidade. Pulei da cama, assustada, calcei minhas pantufas e, enquanto tateava a parede em busca do interruptor, percebi que os gritos pareciam vir de dentro do meu quarto. Olhei de volta em direção a minha cama, e percebi vultos brancos e amarelados andando em círculos ao redor de mim. Eu sabia que meus sentidos estavam me pregando peças, me deixando mais assustada. Não haviam fantasmas ali, que bobagem. Apenas os que moravam em minha mente.
Os gritos não cessavam. Eram longos, contínuos. Ora mais altos, ora mais baixos, mas quase nunca paravam realmente. Era como se a pessoa não tivesse pulmões, e não precisasse respirar.
Minhas mãos tateavam a parede fria até finalmente encontrar o interruptor. Fechei os olhos e o apertei, desejando que fosse apenas um cantor de ópera ensaiando para alguma apresentação. Quando tornei a abri-los, meus olhos me mostraram o que eu menos esperava ver: a janela entreaberta. Tudo aquilo não passara de uma ventania.

domingo, 14 de março de 2010

Meu ideal

Meu ideal seria escrever algo tão inteligente que me tornasse conhecida por isso. Um texto que resolvesse os problemas das pessoas e do mundo. Um livro, melhor dizendo. Daqueles que eu indicaria até para o meu cachorro ler, porque mostraria coisas tão fantásticas que realmente faria a diferença para a humanidade.
Lá, queria poder falar desde a mosca que está me incomodando agora até sobre o que existe além do Universo. Saber explicar os porquês de tudo. Por que o céu é azul? Porque choramos quando estamos tristes? Como funciona uma calculadora? Porque as pessoas se amam? Sim, estaria tudo respondido lá, no meu livro. E eu realmente me sentiria orgulhosa por tê-lo escrito, pois seria algo marcante e revelador, porém, simples.
Todas as pessoas iriam ler - até as que não gostam, fazendo com que ele se espalhasse por aí e fosse traduzido para todos os 6 912 idiomas que existem. E eu seria idolatrada por ter resolvido tudo o que as afligisse. Iriam viver tão felizes que até as guerras cessariam com tudo solucionado. Premiariam-me, talvez com um Nobel ou algo do tipo. E eu me tornaria a pessoa mais feliz que já tivesse entrado para a História.
Mas para isso, teria que começar entendendo meu cachorro. Se eu tivesse um.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Porque você o ama?

É uma das perguntas que não me canso de fazer. Acho bonito ver como as pessoas ficam sem graça ao tentar respondê-la. Por que justamente ele, visto que há milhares de outros homens por aí?
As primeiras respostas que vêm à cabeça são: “ah, ele é bonito, carinhoso, inteligente e engraçado”. Mas e daí? Existem outros por aí com essas mesmas qualidades, e não entendo o porquê de não nos apaixonarmos por todos. Se existisse um padrão perfeito, esses homens estariam com filas e filas de pretendentes, enquanto aquele burrinho da sua sala passaria o resto da vida comprando filmes pornô e bonecas infláveis.
E, enquanto mulheres, achamos que nenhum deles presta, mas eles também choram por nós. Também se viciam quando nos beijam e adoram o brilho do nosso olhar. Por isso, tudo isso serve para os homens também, não pense que não. Porém, eu queria uma explicação plausível do porquê as pessoas se amam. Você é linda e inteligente, gosta de ler e assistir filmes. Ele é um cafajeste, que só fala de futebol e gosta de beber cerveja. E você o ama. Você sabe que o ama, porque sente um frio na barriga quando o vê e derrete feito manteiga quando ele beija seu pescoço. Ele tem um jeito de falar que te encanta, e tudo parece bem quando ele sorri. Mas quem definiu que isso seria amor? Quem definiu o “indefinível”?
Eu queria respostas, explicações. “Porque sim” já não é suficiente. Você sabe porque ama quem você ama? Se tiver essa resposta na ponta da língua, esqueça. Não passa de paixão.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Fotossíntese

Férias, por mais longas que sejam, nunca são longas o suficiente. Por mais que já tenha se passado dois meses, quase não acredito que daqui a três dias terei que cortar as raízes que me prenderam no sofá enquanto eu vegetava por todo esse tempo, e terei que dizer adeus aos desenhos animados e ao calor da minha cama as 11 da manhã.
Sendo sincera - nunca pensei que diria isso, mas sinto falta da minha rotina. É, sinto falta de ter o que fazer, de dormir naquela classe dura durante as aulas de Português, de encontrar os colegas pra fazer trabalhos de tarde. Sinto falta até do meu trabalho, das pessoas que conheci, das histórias malucas que me contavam.
Queria uma semana para matar essa saudade, e depois ter essa mordomia toda de novo. Não, Não. Mudei de ideia. Cansei de vagabundear. Que venha, então, o estresse!

sábado, 30 de janeiro de 2010

Feliz 2011!

Incrível como mudamos nossos planos radicalmente, e nem percebemos. Podia jurar que minha lista de promessas de início de ano estava sendo cumprida, até dia 5 de janeiro, ao menos. Mas prever o futuro não é um dos dons que me acompanham, visto que acabo de comer quase uma barra de chocolate sem prever que isso me daria dor de barriga.
O fato é que a medida que os dias passam, aprendemos coisas novas e deixamos algumas manias velhas para trás. Crescemos, tanto de altura - o que não é meu caso - quanto de personalidade, e vemos que as filosofias de vida que tomávamos no verão passado saíram de moda nesta estação. Mas o que me entristece é ver aquelas pessoas que mantiveram tudo como planejado, e continuam alienadas à coisas que já não deveriam ter tanta importância.
Os meses passam rápido, assim como oportunidades e paixões. Nem parece que já começamos outro ano e, quando piscarmos, estaremos novamente sofrendo com a ressaca de mais um reveillon. Pois agora só restam mais 11 meses (onze!!) deste ano que para mim poderá ser tanto o ano que mudou a minha vida quanto mais um dos que ficarão guardados naquele arquivo salvo no meu cérebro. Só espero não precisar formatá-lo.