quinta-feira, 18 de março de 2010

Ventania

Aconteceu logo que acordei. Ou pensava que tinha acordado, pois quis ficar aqueles cinco minutinhos a mais na cama, abraçando-a para mostrar como a amava e queria continuar ali. Mas é nesse meio tempo entre a vida real e o sono profundo que os sonhos mais loucos passam por minha cabeça, fazendo com que fique um pouco atordoada de manhã cedo.
Foi então que ouvi um grito desesperado, que parecia pedir por socorro mesmo sem palavras, pois tenho certeza de que as pessoas não gritam daquele jeito de felicidade. Pulei da cama, assustada, calcei minhas pantufas e, enquanto tateava a parede em busca do interruptor, percebi que os gritos pareciam vir de dentro do meu quarto. Olhei de volta em direção a minha cama, e percebi vultos brancos e amarelados andando em círculos ao redor de mim. Eu sabia que meus sentidos estavam me pregando peças, me deixando mais assustada. Não haviam fantasmas ali, que bobagem. Apenas os que moravam em minha mente.
Os gritos não cessavam. Eram longos, contínuos. Ora mais altos, ora mais baixos, mas quase nunca paravam realmente. Era como se a pessoa não tivesse pulmões, e não precisasse respirar.
Minhas mãos tateavam a parede fria até finalmente encontrar o interruptor. Fechei os olhos e o apertei, desejando que fosse apenas um cantor de ópera ensaiando para alguma apresentação. Quando tornei a abri-los, meus olhos me mostraram o que eu menos esperava ver: a janela entreaberta. Tudo aquilo não passara de uma ventania.

Um comentário:

  1. Amei muito *-* P.s: Eu NUUUUUNCA levantaria da cama, fato.

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