quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Until die

Eu me sentia total e extremamente culpada. As lágrimas escorriam desenfreadamente e eram absorvidas por meu travesseiro, já encharcado. Meus olhos ardiam, minha cabeça rodava, o corpo todo doía. E os 4 comprimidos de paracetamol que eu tomara não surtiram efeito.
Minha mãe entrou no quarto e disse-me que era chegada a hora. Eu via lágrimas em seus olhos tristes que, ao mesmo tempo, eram incriminadores. Não olhava-me mais com aquela expressão terna com a qual eu estava acostumada. Levantei-me, coloquei os óculos escuros e a segui. Então, deparei-me com meu irmão na sala, que aguardava meu abraço. Era o único que me apoiava indubitavelmente até o fim, mesmo sabendo que eu não estava certa.
Chegamos. Velórios nunca me traziam - se é que trazem a alguém - bons pensamentos, mas eu tinha de estar alí. Eu tinha que sentir aquela nuvem negra e pesada acima de nossas cabeças, eu tinha que me sentir culpada pelas lágrimas derramadas. Eu era obrigada a isso, tinha que sentir o peso de meus atos - ou a falta deles.
Logo que entrei, percebi todos os olhares se voltando para mim. Minhas tias cochichavam algo inaudível, mas que, pelas suas expressões, não era bom. Meus tios olhavam-me com desapontamento, e meus primos limitaram-se a me ignorar. "Porque é que eu não fui lá? Quero dizer, ela estava doente e apesar de todos da família estarem rodeando-na, ela perguntava somente por mim. Aonde estava eu naquele momento?"
Dei mais alguns passos, mas eu não conseguia me aproximar do caixão. Eu não tinha forças e, a cada passo que eu dava, sentia-me mais torturada. Era como se eu estivesse carregando o próprio caixão nas minhas costas. Foi então que o ví: meu pai estava sentado a direita do caixão, com a cabeça baixa e sussurrava algo, mas eu não pude ouvir. As vozes incriminadoras na minha cabeça não me deixavam pensar, e eu não conseguia me concentrar no que fazer. Mas eu consegui ler seus lábios:
- Eu criei um monstro. Não acredito que ela matou a própria avó de desgosto.
Minhas pernas pensaram por mim. Virei-me e comecei a correr em direção a porta, mas ela me parecia cada vez mais distante. Faltava-me a respiração e, pela dor, eu parecia ter um dinossauro no estômago. A única coisa que me parecia possível no momento eu fiz: gritei. Gritei com todas as minhas forças, gritei como nunca na minha vida. Gritei até doer a garganta. Mas não saiu som nenhum.
Foi então que acordei, com meu grito abafado pelo travesseiro.

5 comentários:

  1. uau, sem palavras.
    teu blog me inspira ;*

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  2. uau, sem palavras[2]
    Só isso não me inspia me faz tremer na base

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  3. Tremer na base, são exatamente essas as palavras.
    Perfeito :*

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  4. Sinceramente quando eu li isso não parecia um sonho ;D Perfeito cris, como sempre :*

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  5. Anônimo3/3/09 14:16

    Tu me assustou, Cristiane :o Lindo :*

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