terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Rapadura

Eu estava em casa, sentada no chão da sala com os cadernos no colo, estudando algum assunto que não entendia, quando passei pelo momento que mudou minha vida.
Havia um prédio sendo construído ao lado do meu, que já estava quase na altura da minha sacada, fazendo com que eu pudesse acompanhar toda a obra. Já estava de saco cheio de todas as marteladas e barulhos de serras, furadeiras, coisas caindo no chão, berros e tudo mais, mas isso iria acabar. Foi então que ouvi os pedreiros conversando, e desisti dos meus livros, pois o que se passava ali fora me parecia mais interessante.
Às vezes temos que parar para ouvir outras pessoas falando. Lições de vida não se encontram nos livros da escola, portanto temos que buscá-las na vida real. Então, abri a porta da sacada e sentei ali no sol, para observar a cena. Um pedreiro – um pouco acima do peso, pele morena, cabelo grisalho, calção vermelho e muitos pêlos pelo corpo – estava encima de uma escada, não lembro bem para quê, mas com o tradicional “cofrinho” cabeludo bem à mostra, enquanto seu colega estava parado ao lado da escada e rindo. Acho que pedreiros não têm cuecas.
- Ô colega, tá difícil aí encima?
- É mermão, rapadura é doce mas não é mole!
Não contive o riso. Entrei novamente na sala e desisti dessas lições. Mas me serviu de alguma coisa: depois daquele dia nunca mais comi rapadura.

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